Cala a boca já morreu

Hora do Planeta

Após ver a imagem do Cristo se recolhendo no escuro em ocasião da “hora do planeta” e assistir a Xuxa dizendo no programa Altas Horas que o “Rio não tem jeito” me ocorreu se o Redentor estaria prudentemente aderindo, não ao movimento ambiental promovido pela WWF, mas sim ao toque de recolher imposto pelos traficantes que dominam as 560 favelas do Rio de Janeiro. Acompanhando os noticiários sobre a cidade maravilhosa vejo surgir um revolucionário sistema de governo com ideais muito bem traçados onde a devoção de seus membros justifica o patriótico trecho de nosso hino nacional: “não teme quem te adora a própria morte”.

Já que os políticos não oferecem um ensino público de qualidade, boa parte da população vê na multinacional do pó uma excelente carreira profissional que leva a uma ascensão social fácil com enriquecimento rápido e até fama na mídia que dedica 80% do conteúdo de seus telejornais as proezas dessa nova classe social assassina, dotada de armas exclusivas das Forças Armadas contra uma instituição mal preparada, mal paga e muitas vezes mal intencionada. Comparados ao Estado quebrado formados de incompetentes e ladrões egoístas, o crime organizado consegue algumas proezas sonhadas por famosos ditadores mundiais da história como ganhar as graças da população, por exemplo, que os alertam com toalhas coloridas no varal, apitos e rojões sobre a chegada do inimigo, a polícia, que é ridicularizada e odiada graças aos seus próprios escândalos de corrupção e violência.

A cada dia fica mais difícil reconhecer quem são as verdadeiras autoridades cariocas, o Executivo e seu jogo de empurra, o Judiciário conivente ou os Comandos que transformam celas de prisão em centro de gerenciamento high tech do crime onde seus celulares funcionam melhor do que em diversas regiões do país. Em 2014 tem Copa do Mundo, quem serão os anfitriões do espetáculo? Só há uma regra definida: a população civil trabalhadora ficará fora do jogo.

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