Feliz dia do professor (ou o que sobrou dele)

Quem acompanha este Blog já conhece o que penso sobre como a educação em São Paulo, vai de encontro às necessidades de um país que deseja se tornar uma das maiores economias mundiais. Em contradição com o que o ator e candidato José Serra diz quando cita o número de escolas e ETECs criadas, este ano na escola onde trabalho estaremos aprovando todos os alunos semi-analfabetos para o 1º ano do Ensino Médio por forças de lei, incluindo a lei do silêncio e a lei do mais fraco onde impera um ambiente de ojeriza aos alunos com professores determinados a aprovar adolescentes incapazes de escrever ou fazer qualquer operação matemática só para não vê-los em suas salas de aula no ano seguinte.

Professores categoria “O” como eu não são incluídos no bônus que o candidato insiste em dizer que é pago aos professores que trabalham mais, pois eu me dediquei intensamente desde o primeiro dia letivo deste ano e serei sumariamente cortado da folha de pagamento em dezembro. Cabe lembrar que mesmo sofrendo descontos que ultrapassam 11% na minha folha de pagamento, não tenho direito a nenhuma seguridade social, a minha condição de “contratado” (e de milhares de professores paulistas) não permite que eu tire licença saúde ou faça inscrições para formação continuada, pois minhas salas seriam imediatamente atribuídas a outro professor. Graças a Deus eu nunca precisei, provavelmente estaria enterrado como indigente se dependesse do governo para qualquer emergência. Gostaria que alguém me explicasse como um professor aprovado em exame público para atribuição de aulas com 83% de índice de acerto pode ser classificado como a categoria mais baixa entre tais profissionais, inferior inclusive aos professores que lecionam a mais de 20 anos mas nunca foram aprovados em concurso algum (muitos deles se recusam a demonstrar que conhecem a matéria que deveriam ensinar mas são protegidos por um governo que prefere não contratar uma vez que estes 240 mil professores custam menos aos cofres públicos).

Devo declarar que conheço um número absurdo de professores sem comprometimento com a profissão, não preparando suas aulas devidamente, não se importando se seus alunos estão aprendendo, não procurando meios de despertar o interesse dos estudantes com aulas mais agradáveis e compatíveis com a realidade de cada escola. Professores egoístas e amargurados, incapazes de oferecer o ouvido para raciocinar sobre uma crítica, totalmente desprovidos de ética e que destroem a imagem desta categoria e daqueles profissionais que ainda se dedicam a buscar sempre uma evolução. Mas aqueles que generalizam e gritam ao vento que todos os professores são vagabundos e acomodados que reclamam de barriga cheia, certamente nunca exerceram uma atividade no setor da educação pública.

Hoje não posso mais me orgulhar dos esforços de minha família além dos meus próprios para conseguir entrar em uma faculdade pública de renome e me manter nela durante anos dividindo meus dias entre trabalho e estudos para após formado, não conseguir um emprego que me ofereça qualquer estabilidade para que eu possa constituir uma família. Minha situação é motivo de deboche em uma cidade onde costureiros e bordadeiras que abandonaram a escola ainda criança, hoje ganham mais que os professores de seus filhos.

  • Ganhe o mundo aprendendo inglês de qualidade sem gastar muito

  • Enquete

  • Arquivos com todos os posts

  • mais acessados

    • Nenhum