Nesta noite fiquei um pouco envergonhado de viver em um país onde nenhum canal de TV estava transmitindo um evento que colocou personalidades como Al Pacino e Spielberg para atender aos telefonemas das pessoas com seus donativos enquanto U2, Madonna, Shakira e tantos outros músicos de diversas partes do mundo resgatavam a música do ambiente comercial de volta para sua verdadeira função que é a arte.
Ao final de cada brilhante execução musical, o silêncio do luto tomava o lugar dos aplausos até outra celebridade tomar a atenção dos holofotes para dar um depoimento forte sobre os números e testemunhos do sofrimento daquele povo. Dentre as mensagens de texto, alguém do Haiti querendo agradecer a pessoa responsável pelo leite e pelas sandálias que seus filhos receberam;
Faltou a presença daquele que não esperava as tragédias acontecerem para voltar sua atenção aos mais necessitados das regiões mais pobres do mundo. Michael Jackson certamente seria presença garantida neste evento que pude acompanhar na TV a cabo, no conforto de minha casa, compreendendo todo seu conteúdo em inglês graças às bênçãos que Deus me deu.
Entrevistando na rádio local um avô aflito e ansioso por abraçar seu neto, que escapou ileso do terremoto enquanto servia como soldado da força de paz da ONU no Haiti, eu fiquei imaginando como este senhor de 75 anos de idade que trabalha vendendo verduras nas ruas de Ibitinga com uma carriola pode doar mais que muitos empresários que ignoram o que acontece com as pessoas.
Espero não me envergonhar da mídia de meu país um dia por preferir a transmissão da entrega do Oscar ou do Concurso de Miss Universo com seus apresentadores, tradutores, críticos e comentaristas que perderam a chance de falar menos bobagem participando de um evento beneficente como o de hoje.
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